28 de out. de 2013

Demais para ser verdade

Tardei em acordar. O fiz por volta da 14 horas e 30 minutos. Pelo quarto, espalhadas, só contas a pagar e garrafas de cerveja. A ressaca me matava junto à vontade de vomitar tudo o que não havia comido. A televisão chiava há pelo menos três dias, segundo as contas que fiz. Dois dias atrás ainda conseguia assistir aos canais do pacote básico.

Com alguma força, consegui me levantar e preparar um café forte que mais parecia água de privada de botequim. Melhor que nada.

Olhei pro apartamento e percebi o quanto miserável estava a minha vida no momento. Qualquer um choraria, eu decidi rir.

Parei quando a campainha tocou.

"Droga, deve ser o senhorio cobrando a bosta do aluguel. Ou a polícia com o oficial de justiça já para me despejarem à força", pensei. Levei uns 2 minutos para encontrar a chave. Prova de que os meus sentidos ainda mantinham algum nível de funcionalidade.

Abri a porta.

- Olá!? - disse a moça do outro lado.

Eu realmente não sabia se aquilo era uma mulher bonita demais para ser verdade de verdade ou se era alguma alucinação promovida pelo banho de álcool da noite anterior.

- O..i... - mal consegui balbuciar.

A garota esticou o pescoço em um gesto de curiosidade para saber o que havia dentro do meu chiqueiro. Fechei um pouco mais a porta buscando diminuir seu campo de visão.

- Deseja algo? - pergunte procurando desviar a atenção da moça.

- Sim, eu queria saber se você tem açúcar e se pode me ceder um pouco. - disse a beldade.

Não tinha nem açúcar no meu sangue naquela altura. Nem cheguei muito perto para que ela não desconfiasse disso através do cheiro do meu hálito.

- Açúcar eu não tenho. Tenho alguns sachês desses que dão em restaurante, serve?

- Ah! Serve sim - respondeu sorrindo.

A geladeira ficava perto da porta. Só estendi a mão e peguei alguns envelopes sem deixar que ela visse a bagunça do lugar.

- Aqui está! - estendi a mão entregando os envelopes.

Ela pegou e sorriu novamente.

- Obrigada...

- Milton! - exclamei.

- Senhor Milton - disse com educação.

Sorri.

Ela se virou e foi em direção ao 201. O vestido delineava com perfeição o seu corpo.

Me senti um idiota mal educado. Podia tê-la convidado a entrar não fosse toda aquela imundície.

Entrei batendo a porta.

Estava na hora de arrumar o apartamento, um novo emprego... A vida.

3 comentários:

Carlos RJ disse...

Mto bom. Parabens!

Unknown disse...

Obrigado, Carlos. Gosto muito de receber os comentários dos leitores do blog.

marina, disse...

Incrível, não pare nunca.
E arrume o apartamento rs.