De novo estava só, em casa. Vanessa havia saído. Marcou de ir comemorar o primeiro salário com as amigas, gastando-o de forma irresponsável. Típico.
A única companhia era oWhisky. Tinha uma Garrafa nova em folha de um bem vagabundo: Teacher's. Bela bosta, mas era o que tinha para a noite.
Mesmo contra a própria vontade, eu sentia falta e não gostava quando Vanessa ia sair. Ela chegou a me convidar, mas eu tinha alergia a lugares fechados e à patricinhas e playboys mimados que fediam a perfume importado. Vanessa também era uma patricinha, "pseudo" para dizer a verdade, mas não fedia tanto à perfumes caros.
Eu preferia ficar fedendo à bebida. Traduzia bem o meu jeito de aproveitar a vida e curtir momentos de solidão filosófica.
Mas nem toda solidão é solidão se te interrompem. A campainha tocou insistentemente.
Levantei e lá estava ela: a moça do açúcar. Aquela coisa linda que nem o álcool me impedia de contemplar.
Quando o êxtase daquela visão perfeita passou, percebi que moça estava aos prantos. Chorava muito e o olho estava roxo.
- Mas o que houve? - perguntei assustado.
- Ele... ele... Me bateu! - soluçava.
- Ele quem?
- Meu na...Namorado.
Eu nem sabia que ela morava com alguém, muito menos com um namorado que curtia bater em mulher nas horas vagas.
- Onde ele está? Eu vou lá mostra uma coisa pra ele...
- Ele desceu. Saiu por aí. Estava muito bêbado.
Eu pensava que a bebida era pretexto para ser feliz e não para espancar mulheres. Ele estava, de fato, acabando com reputação dos bons bebuns - pensei.
- Quer que eu a leve à uma delegacia para você dar queixa? - ofereci.
- Não. Melhor não. Só quero ficar aqui e me acalmar.
- Vou buscar água...
- Não! Não quero água. Será que você pode me dar um pouco... - disse apontando para a garrafa de Teacher's.
- Olha, eu posso te dar um pouco. Mas saiba que o gosto é de doer.
- Duvido que algo doa mais que a surra que acabei de levar.
Depois dessa, ficamos calados.
Servi um copo de whisky e deixe na mesa. A essa altura a moça do 201 já não chorava mais, mas estava muito abatida.
Sentei no sofá e para minha surpresa ela veio sentar ao meu lado. Colocou a cabeça sobre o meu ombro direito.
Mantivemos o silêncio.
Quando resolvi puxar assunto, percebi que tinha adormecido. A levei até meu quarto, a deitei e voltei para a sala.
A noite já não era mais a mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário