11 de mar. de 2014

Solidão interrompida.

De novo estava só, em casa. Vanessa havia saído. Marcou de ir comemorar o primeiro salário com as amigas, gastando-o de forma irresponsável. Típico.

A única companhia era oWhisky. Tinha uma Garrafa nova em folha de um bem vagabundo: Teacher's. Bela bosta, mas era o que tinha para a noite.

Mesmo contra a própria vontade, eu sentia falta e não gostava quando Vanessa ia sair. Ela chegou a me convidar, mas eu tinha alergia a lugares fechados e à patricinhas e playboys mimados que fediam a perfume importado. Vanessa também era uma patricinha, "pseudo" para dizer a verdade, mas não fedia tanto à perfumes caros.

Eu preferia ficar fedendo à bebida. Traduzia bem o meu jeito de aproveitar a vida e curtir momentos de solidão filosófica.

Mas nem toda solidão é solidão se te interrompem. A campainha tocou insistentemente.

Levantei e lá estava ela: a moça do açúcar. Aquela coisa linda que nem o álcool me impedia de contemplar.

Quando o êxtase daquela visão perfeita passou, percebi que moça estava aos prantos. Chorava muito e o olho estava roxo.

- Mas o que houve? - perguntei assustado.

- Ele... ele... Me bateu! - soluçava.

- Ele quem?

- Meu na...Namorado.

Eu nem sabia que ela morava com alguém, muito menos com um namorado que curtia bater em mulher nas horas vagas.

- Onde ele está? Eu vou lá mostra uma coisa pra ele...

- Ele desceu. Saiu por aí. Estava muito bêbado.

Eu pensava que a bebida era pretexto para ser feliz e não para espancar mulheres. Ele estava, de fato, acabando com reputação dos bons bebuns - pensei. 

- Quer que eu a leve à uma delegacia para você dar queixa? - ofereci.

- Não. Melhor não. Só quero ficar aqui e me acalmar.

- Vou buscar água...

- Não! Não quero água. Será que você pode me dar um pouco... - disse apontando para a garrafa de Teacher's.

- Olha, eu posso te dar um pouco. Mas saiba que o gosto é de doer.

- Duvido que algo doa mais que a surra que acabei de levar.

Depois dessa, ficamos calados.

Servi um copo de whisky e deixe na mesa. A essa altura a moça do 201 já não chorava mais, mas estava muito abatida.

Sentei no sofá e para minha surpresa ela veio sentar ao meu lado. Colocou a cabeça sobre o meu ombro direito.

Mantivemos o silêncio.

Quando resolvi puxar assunto, percebi que tinha adormecido.  A levei até meu quarto, a deitei e voltei para a sala.

A noite já não era mais a mesma.





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