10 de ago. de 2014

Medium

Então pessoal, ultimamente tenho postado no Medium. Acho a interface mais interessante e menos confusa que o blogger.

Vou passar por aqui de vez em quando.

Beijos e abraços.


11 de mar. de 2014

Solidão interrompida.

De novo estava só, em casa. Vanessa havia saído. Marcou de ir comemorar o primeiro salário com as amigas, gastando-o de forma irresponsável. Típico.

A única companhia era oWhisky. Tinha uma Garrafa nova em folha de um bem vagabundo: Teacher's. Bela bosta, mas era o que tinha para a noite.

Mesmo contra a própria vontade, eu sentia falta e não gostava quando Vanessa ia sair. Ela chegou a me convidar, mas eu tinha alergia a lugares fechados e à patricinhas e playboys mimados que fediam a perfume importado. Vanessa também era uma patricinha, "pseudo" para dizer a verdade, mas não fedia tanto à perfumes caros.

Eu preferia ficar fedendo à bebida. Traduzia bem o meu jeito de aproveitar a vida e curtir momentos de solidão filosófica.

Mas nem toda solidão é solidão se te interrompem. A campainha tocou insistentemente.

Levantei e lá estava ela: a moça do açúcar. Aquela coisa linda que nem o álcool me impedia de contemplar.

Quando o êxtase daquela visão perfeita passou, percebi que moça estava aos prantos. Chorava muito e o olho estava roxo.

- Mas o que houve? - perguntei assustado.

- Ele... ele... Me bateu! - soluçava.

- Ele quem?

- Meu na...Namorado.

Eu nem sabia que ela morava com alguém, muito menos com um namorado que curtia bater em mulher nas horas vagas.

- Onde ele está? Eu vou lá mostra uma coisa pra ele...

- Ele desceu. Saiu por aí. Estava muito bêbado.

Eu pensava que a bebida era pretexto para ser feliz e não para espancar mulheres. Ele estava, de fato, acabando com reputação dos bons bebuns - pensei. 

- Quer que eu a leve à uma delegacia para você dar queixa? - ofereci.

- Não. Melhor não. Só quero ficar aqui e me acalmar.

- Vou buscar água...

- Não! Não quero água. Será que você pode me dar um pouco... - disse apontando para a garrafa de Teacher's.

- Olha, eu posso te dar um pouco. Mas saiba que o gosto é de doer.

- Duvido que algo doa mais que a surra que acabei de levar.

Depois dessa, ficamos calados.

Servi um copo de whisky e deixe na mesa. A essa altura a moça do 201 já não chorava mais, mas estava muito abatida.

Sentei no sofá e para minha surpresa ela veio sentar ao meu lado. Colocou a cabeça sobre o meu ombro direito.

Mantivemos o silêncio.

Quando resolvi puxar assunto, percebi que tinha adormecido.  A levei até meu quarto, a deitei e voltei para a sala.

A noite já não era mais a mesma.





10 de mar. de 2014

Viagem a álcool

Às vezes me pergunto quem sou. Outras vezes sinto como se fosse um homem de dentro e fora dessa cápsula que chamo de corpo. Como se vivesse o que sou - mas sem saber o que - e me visse ao mesmo tempo de alguma distância próxima. Não sei.

Será que todos, absolutamente todos, sabem quem são de verdade? Ou pensam que sabem? Aposto que alguns não têm a menor ideia e se sentem bem assim, enquanto outros renegam a própria existência por saberem de si.

É estranho.

Acho que no fundo são nossas dúvidas que definem quem somos. Nossas certezas são apenas máscaras, disfarçando nossa falta de senso, de cuidado, de amor etc.

Besteira!

Melhor ir dormir e parar de beber esse whisky barato.

11 de fev. de 2014

Getúlio

Cheguei em casa por volta das nove e meia da noite. Voltava de uma série de entrevistas de emprego. O dinheiro da rescisão e indenização do último estava acabando e eu precisava de outro para me manter mesmo dividindo as contas com Vanessa. 

Logo que entrei me deparei com a sem vergonha sentada no colo de um cidadão de 1,90 de altura trajando um terno caro (deu pra saber de longe) em uma cena de amorzinho barato

Os dois ficaram espantados. Vanessa se levantou rapidamente, sem graça. 

- Quem é esse? - perguntou o projeto de Eike Batista. 

- Quem é esse é o cara**o, queridão. Quem é você? - respondi ofensivamente sem ligar nem lembrar que o rapaz tinha 1,90 e o porte de candidato a halterofilista.

- Comoéquié? - interrogou o galalau. 

- É isso mesmo, amigo. Essa casa é minha, pode ir dando o fora! AGORA!

O cara levantou e fez que ia me agredir. Vanessa entrou na frente. 

- Calma Getúlio! É melhor você ir. Depois nos falamos. 

- Getúlio? O nome dele é Getúlio? - perguntei, apontando e rindo. 

Vanessa me olhou desaprovando a atitude. 

Foram até a porta. O cara ficou me encarando com sangue nos olhos. 

Depois de ter despachado o halterofilista com nome de estadista suicida, ela veio até mim, cruzou os braços e ficou me encarando. 

- O que foi? - disse, me recuperando do acesso de risos.

- Você é idiota ou o quê? essa foi a crise ciúmes mais imbecil que já pude presenciar. 

- Ciúmes, Vanessa? O que vocês beberam? Água de radiador? - ri. 

- Ok, Milton. Quando perguntei se podia trazer alguém para cá quando você não estivesse, você assentiu. Agora me vem com estardalhaço. Francamente.

Tentei me desculpar, mas ela não me deu a oportunidade. Pegou suas coisas e dirigiu-se a porta. 

-  Vai sair agora? já está ficando tarde. 

-  Não é da sua conta. Você não é meu pai. Vou procurar o Getúlio e pedir desculpa pelo meu amigo ciumento e imbecil. 

- Está ficando tarde. Depois não vem me ligar e pedir pra ir te buscar, hein! - desdenhei.

Vanessa esbravejou:

- Tudo bem, eu me viro. Me virava bem muito antes de te conhecer.
 
 Saiu batendo a porta. 

Peguei uma garrafa de vinho, a última que havia sobrado. Sentei na minha poltrona e comecei a beber enquanto pensava "ciumento é o cacete".


2 de fev. de 2014

Hospital Modelo

Acordei no hospital.

Estava alocado em um dos corredores, provavelmente um hospital público. Junto à maca, estava uma mulher que não reconheci prontamente. Era Vanessa. Estava meio que de costas pra mim e parecia preocupada.

- Em que hospital estamos? - perguntei fazendo esforço pra ficar sentado.

Vanessa virou-se assustada. Era como se tivesse acabado de ver alguém voltando do além túmulo.

- Você acordou! Graças a DEUS! Obrigado, Senhor - agradeceu olhando pro céu e se benzendo. Nunca soube na vida que ela tivesse alguma faceta religiosa. Cheguei a suspeitar que o álcool não havia saído do meu sangue por completo e estava tendo alguma alucinação.

- É um milagre! É um milagre! - continuou como se fosse a mulher mais carola do universo.

- Então Madre Teresa, pode me explicar como me acharam e como me trouxeram pra cá? - perguntei debochando da religiosidade tão repentina quanto oportuna.

- Não tem graça, boboca! Estou feliz por estar vivo.

- Ok, disso eu tenho certeza...

- Te acharam na rua, uma garota de programa te achou e chamou a ambulância. Você foi esfaqueado e estava banhado em seu próprio sangue. Acharam que você não fosse resistir.

- Ah, entendi. Quer dizer que trocaram minha roupa?

- Sim, eu troquei. Fui em casa e peguei alguma coisa. Daí te troquei aqui mesmo.

Imaginei-me ficando nu em meio a um monte de gente que passava pra lá e pra cá nos corredores.

- As enfermeiras curtiram - disse Vanessa dando aqueles risinhos histéricos bem comuns.

- Será que já podemos ir pra casa?

- Não! - disse Vanessa - estou esperando a médica para te dar alta.

Enquanto falávamos uma mulher que parecia a mistura perfeita de Monica Belucci, Shakira e Natalie Portman se aproximava. Parou ao lado da minha maca.

- Ah, Milton. Essa é a médica.

Imaginei que uma outra facada não me cairia tão mal, desde que não fosse fatal. Pelo menos não tanto quanto a femme fatale que estava cuidando de mim.

- Como se sente sr. Fernandes?

- Senhor, não. Senhorito - disse tentando arrancar um sorriso daquela escultura que curava seus pacientes só de olhar.

Ela não riu, nem esboço um mísero riso. Fechou a cara. Resolvi responder a pergunta sem gracinhas:

- Me sinto muito melhor. Acho que quem me esfaqueou não estava portando nenhuma faca Ginsu.

Pronto, outra piada e ela mesmo vai me matar.

- Se já está fazendo graça é porque está melhor, doutora - Vanessa me olhou com cara feia juntando-se ao motim feminista contra minha pessoa.

- Ok, sr Fernandes. Já que está melhor a policial Mercedes vai fazer algumas perguntas, ok? Depois o sr. pode ir embora.

- Tudo bem e obrigado, Doutora.

A policia chegou logo depois, linda e tão deslumbrante quanto a médica. Aquele lugar devia ser agência de modelos de dia e hospital à noite.

Desde que fosse para aquele hospital e não morresse, eu poderia levar uma facada por mês!