3 de nov. de 2013

Mulher-problema



Era por volta da meia-noite. Chegava meio bêbado e resolvi sentar na escada que ficava na porta do prédio.

O edifício tinha cinco andares, morava no segundo, apartamento 205, entre o cara que batia na esposa e o viciado em crack.

Embora os moradores fossem alternativos, para os padrões de locais que são antro da vagabundagem, até que o lugar era bem tranqüilo.

Enquanto aguardava o nível do álcool no meu sangue diminuir, sentado na escada, a dona Paulete passou. Pude perceber que me olhava com certo desdém, como a quem olha um vira-latas sarnento e com pulgas a dar e vender.

Dona Paulete era uma velha de meia-idade que mais parecia a versão feminina do Mum-Rá e babava feito um são bernardo quando falava. Morava sozinha. O marido morreu fazia cinco anos e, dizia a dona Paulete, que o falecido havia deixado uma pensão gorda. Motivo pelo qual ela tratava todo mundo feito lixo, exceto o pedante intelectual do quinto andar. Não sei muito mais que isso. Passou a me odiar quando vomitei na sua porta depois de uma das inúmeras bebedeiras que tive.

Assim que a velha carcomida passou, esperei algum tempo e resolvi subir para o apartamento. Abri a porta com alguma dificuldade, mas abri. Entrei, liguei a tv e peguei uma cerveja na geladeira (diz a sabedoria popular que uma bebedeira cura outra). Passaram-se dez minutos e o telefone tocou. Relutei em atender, mas fiz. Do outro lado uma voz cansada e apavorada chamou o meu nome:

- Milton, é você? Milton?
- Xim, xou eu. Quem estchá falando?
- Milton, sou eu. Sou eu, a... – o telefone chiava muito.
- Olha moxa, eu não estchou entendendo nada...
- Sou eu, Milton! Vanessa!

Quando ouvi aquele nome, entendi o porquê daquela voz não me parecer estranha mesmo estando bêbado. Senti como se um caminhão carregado de más lembranças tivesse me atropelado:

- Maix o que voxê quer? – perguntei com um misto de medo, fúria e álcool.
- Desculpa! Eu não tinha outra pessoa a quem recorrer. Preciso muito da sua ajuda – implorou.
- Mas porque eu?
- Porque você é uma bom homem, porque, apesar de tudo, confio em você e...

A ligação caiu. Não tornou a ligar.

Uma hora depois a campainha tocou. Atendi sabendo quem era, mas desejando que não fosse.

Dizem que quando se chega ao fundo do poço, nada pode piorar. Só temos a subir.

Não quando se conhece alguém como ela...




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