Acordei no hospital.
Estava alocado em um dos corredores, provavelmente um hospital público. Junto à maca, estava uma mulher que não reconheci prontamente. Era Vanessa. Estava meio que de costas pra mim e parecia preocupada.
- Em que hospital estamos? - perguntei fazendo esforço pra ficar sentado.
Vanessa virou-se assustada. Era como se tivesse acabado de ver alguém voltando do além túmulo.
- Você acordou! Graças a DEUS! Obrigado, Senhor - agradeceu olhando pro céu e se benzendo. Nunca soube na vida que ela tivesse alguma faceta religiosa. Cheguei a suspeitar que o álcool não havia saído do meu sangue por completo e estava tendo alguma alucinação.
- É um milagre! É um milagre! - continuou como se fosse a mulher mais carola do universo.
- Então Madre Teresa, pode me explicar como me acharam e como me trouxeram pra cá? - perguntei debochando da religiosidade tão repentina quanto oportuna.
- Não tem graça, boboca! Estou feliz por estar vivo.
- Ok, disso eu tenho certeza...
- Te acharam na rua, uma garota de programa te achou e chamou a ambulância. Você foi esfaqueado e estava banhado em seu próprio sangue. Acharam que você não fosse resistir.
- Ah, entendi. Quer dizer que trocaram minha roupa?
- Sim, eu troquei. Fui em casa e peguei alguma coisa. Daí te troquei aqui mesmo.
Imaginei-me ficando nu em meio a um monte de gente que passava pra lá e pra cá nos corredores.
- As enfermeiras curtiram - disse Vanessa dando aqueles risinhos histéricos bem comuns.
- Será que já podemos ir pra casa?
- Não! - disse Vanessa - estou esperando a médica para te dar alta.
Enquanto falávamos uma mulher que parecia a mistura perfeita de Monica Belucci, Shakira e Natalie Portman se aproximava. Parou ao lado da minha maca.
- Ah, Milton. Essa é a médica.
Imaginei que uma outra facada não me cairia tão mal, desde que não fosse fatal. Pelo menos não tanto quanto a femme fatale que estava cuidando de mim.
- Como se sente sr. Fernandes?
- Senhor, não. Senhorito - disse tentando arrancar um sorriso daquela escultura que curava seus pacientes só de olhar.
Ela não riu, nem esboço um mísero riso. Fechou a cara. Resolvi responder a pergunta sem gracinhas:
- Me sinto muito melhor. Acho que quem me esfaqueou não estava portando nenhuma faca Ginsu.
Pronto, outra piada e ela mesmo vai me matar.
- Se já está fazendo graça é porque está melhor, doutora - Vanessa me olhou com cara feia juntando-se ao motim feminista contra minha pessoa.
- Ok, sr Fernandes. Já que está melhor a policial Mercedes vai fazer algumas perguntas, ok? Depois o sr. pode ir embora.
- Tudo bem e obrigado, Doutora.
A policia chegou logo depois, linda e tão deslumbrante quanto a médica. Aquele lugar devia ser agência de modelos de dia e hospital à noite.
Desde que fosse para aquele hospital e não morresse, eu poderia levar uma facada por mês!
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