2 de fev. de 2014

Hospital Modelo

Acordei no hospital.

Estava alocado em um dos corredores, provavelmente um hospital público. Junto à maca, estava uma mulher que não reconheci prontamente. Era Vanessa. Estava meio que de costas pra mim e parecia preocupada.

- Em que hospital estamos? - perguntei fazendo esforço pra ficar sentado.

Vanessa virou-se assustada. Era como se tivesse acabado de ver alguém voltando do além túmulo.

- Você acordou! Graças a DEUS! Obrigado, Senhor - agradeceu olhando pro céu e se benzendo. Nunca soube na vida que ela tivesse alguma faceta religiosa. Cheguei a suspeitar que o álcool não havia saído do meu sangue por completo e estava tendo alguma alucinação.

- É um milagre! É um milagre! - continuou como se fosse a mulher mais carola do universo.

- Então Madre Teresa, pode me explicar como me acharam e como me trouxeram pra cá? - perguntei debochando da religiosidade tão repentina quanto oportuna.

- Não tem graça, boboca! Estou feliz por estar vivo.

- Ok, disso eu tenho certeza...

- Te acharam na rua, uma garota de programa te achou e chamou a ambulância. Você foi esfaqueado e estava banhado em seu próprio sangue. Acharam que você não fosse resistir.

- Ah, entendi. Quer dizer que trocaram minha roupa?

- Sim, eu troquei. Fui em casa e peguei alguma coisa. Daí te troquei aqui mesmo.

Imaginei-me ficando nu em meio a um monte de gente que passava pra lá e pra cá nos corredores.

- As enfermeiras curtiram - disse Vanessa dando aqueles risinhos histéricos bem comuns.

- Será que já podemos ir pra casa?

- Não! - disse Vanessa - estou esperando a médica para te dar alta.

Enquanto falávamos uma mulher que parecia a mistura perfeita de Monica Belucci, Shakira e Natalie Portman se aproximava. Parou ao lado da minha maca.

- Ah, Milton. Essa é a médica.

Imaginei que uma outra facada não me cairia tão mal, desde que não fosse fatal. Pelo menos não tanto quanto a femme fatale que estava cuidando de mim.

- Como se sente sr. Fernandes?

- Senhor, não. Senhorito - disse tentando arrancar um sorriso daquela escultura que curava seus pacientes só de olhar.

Ela não riu, nem esboço um mísero riso. Fechou a cara. Resolvi responder a pergunta sem gracinhas:

- Me sinto muito melhor. Acho que quem me esfaqueou não estava portando nenhuma faca Ginsu.

Pronto, outra piada e ela mesmo vai me matar.

- Se já está fazendo graça é porque está melhor, doutora - Vanessa me olhou com cara feia juntando-se ao motim feminista contra minha pessoa.

- Ok, sr Fernandes. Já que está melhor a policial Mercedes vai fazer algumas perguntas, ok? Depois o sr. pode ir embora.

- Tudo bem e obrigado, Doutora.

A policia chegou logo depois, linda e tão deslumbrante quanto a médica. Aquele lugar devia ser agência de modelos de dia e hospital à noite.

Desde que fosse para aquele hospital e não morresse, eu poderia levar uma facada por mês!

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