6 de set. de 2013

Apresentações traumáticas

Lembro-me de quando fui apresentado à morte.

Estava porcamente bêbado quando cheguei ao bordel. Poucas coisas vêm à minha memória. As paredes tinham cheiro de detergente tão barato quanto o perfume daquelas mulheres que vagavam pra lá e pra cá sem a parte de cima do vestuário. Dois vultos grandes e largos guardavam a porta e perguntaram se eu portava algum tipo de arma. Disse algo que fez com que me deixassem adentrar ao recinto.

Não entendo porque fui e como cheguei ao local. Os meus sentidos estavam todos de folga e minha vontade já não era mais minha, meu corpo estava dormente. Meus ossos doíam.

Joguei o trapo que chamava de corpo sobre o primeiro banco que vi. O homem que estava ao meu lado fedia a uma mistura de urina, álcool e, talvez, ao que eu arriscaria classificar como perfume. A partir desse momento, pelo menos o meu olfato voltou a funcionar. 

O garçom perguntava o que desejava ao mesmo tempo em que uma das meninas vinha oferecer seus prazerosos serviços. Eu nem mesmo perceberia a diferença entro os dois não fosse o bigode gigante e amarelado de nicotina do garçom. Recusei a bebida e subi com a moça.

Entramos no que chamavam de quarto. Quatro paredes com uma porta e colchão no chão, um cubículo. A moça começou a se despir, e eu tentava fazer o mesmo. Tirar a camisa foi um sacrifício. Durante àquele momento de acrobacias, os meus sentidos, subitamente, decidiram funcionar. A minha visão turva, melhorou de forma significativa. Seria um milagre? A minha dúvida entre enxergar e ficar sem enxergar acentuou-se quando tentei entender se a menina tinha um tumor na tireoide ou se era o maior pomo de Adão que já havia visto na vida.

Suspeitei de estar sendo enganado.

A certeza viria alguns momentos depois, quando a moça decidiu tirar a calcinha. Foi a visão do inferno, meu amigo. Peguei minha roupa e saí correndo. A traveco gritava dizendo que eu estava saindo depois consumar e não pagar. Como assim?

Ao descer dei de cara com dois seguranças enormes. Os vultos da porta haviam tomado forma e batiam bem forte.

Fui levado a um terreno baldio e um deles puxou uma daquelas armas que você só vê nos filmes do Charles Bronson. Tinha duas opções: ou gritava ou mijava nas calças. Escolhi a menos humilhante, me mijei. De fato mereço uma colher-de-chá, eu estava bêbado.

A polícia estava fazendo ronda e, milagrosamente, ao perceber a movimentação, decidiu se aproximar. O barulho da sirene assustou os brutamontes que esqueceram do bêbado mijado e correram. Salvo pelo gongo.

Nessa experiência traumática, eu aprendi: sempre verifique o pacote.


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