29 de dez. de 2013

Mulher-problema: final.

A procurei por praticamente duas horas, encontrei enquanto passava pela zona portuária da cidade. Sentada próxima a entrada da rodoviária, triste e com cara de cão sem dono. Parecia não ter a mínima idéia de onde ir.

Fiz sinal e desci no ponto mais próximo, andei alguns metros e pude vê-la. Seu olhar estava distante. Hesitei, mas logo me aproximei. 

- Olá - disse sentando junto à ela, no meio-fio.

Não quis me encarar. Por vergonha ou raiva. Mesmo assim respondeu com a voz arrastada:

- Oi.

- Te procurei por um bom tempo, sabia? - suspirei. 

Olhou-me e tornou ao nada. 

- É, pode ser. Mas duvido que quisesse me achar - debochou. 

- Sim, eu quis achar. Tanto que achei. Fiquei preocupado de verdade - baixei o olhar. Era duro admitir. aos meus ouvidos soava como fraqueza. 

Vanessa virou-se na minha direção e sorriu de modo tímido.

- Desculpe - continuei - mas o que eu disse não foi de coração. 

- Talvez - disse ela, com dúvida. - Se fosse há algum tempo atrás, você teria razão em ter dito tudo aquilo. Mas dessa vez é diferente, Milton! Por caso você tem ideia da humilhação que passei indo te procurar? Só procurei porque definitivamente não havia ninguém mais. Não há! Fui atrás de você, pois tem um bom coração e achei que não guardasse tanta mágoa. Mas me enganei quando você me humilhou mais ainda do que já estava e fez com que eu fosse embora.  

- Ok, eu entendo. Mas você está pedindo demais quando diz, sugere, que eu não tenha guardado mágoa depois de tudo o que aconteceu. Só um bobo poderia levar tudo isso numa boa, mas infelizmente esse homem morreu e você sabe muito bem de quem eu estou falando...

- Sei... Do João - respondeu com a voz triste. 

Vanessa baixou a cabeça. Achei que fosse chorar, mas segurou firme. Não desabou. 

- Bem, que tal darmos um fim a essa conversa braba e voltarmos logo pra casa?  - levantei, estendi a mão e a ajudei a levantar. 

Percebi que prendia o choro. 

Olhou bem nos meus olhos: 

- Negócio fechado...