A festa estava quase pronta. Vanessa organizara tudo sozinha. Era por volta das 21 horas e esperávamos mais alguns amigos-nem-tão-amigos-assim. Alguns meus, outros dela.
Quando a festa começou de fato, muitos perguntaram há quanto tempo "estávamos juntos". Eu respondia "Como assim, caras? Só porque moro com uma mulher não significa que esteja dormindo com ela!". Alguns riam e me chamavam de "malandrinho", outros fingiam que não ouviam ou desconversavam. Vanessa parecia gostar de todo aquele teatrinho. Bullshit!
Sentei em um canto isolado e comecei a esbravejar mentalmente: gente que eu não conhecia ou até mesmo que não queria na minha casa estava lá. Um jeito ótimo de começar o ano, com pessoas que eu não gostava nem um pouco. Não bastando a Vanessa vir morar comigo, ganhei a corja de amigos dela de brinde.
Minha reclamações foram interrompidas pela campainha. Não esbocei reação. Tinha muita gente lá dentro que poderia atender. Ninguém moveu um cílio. Novidade. Seria demais esperar prestatividade daqueles babacas.
Abri a posta e a garota do açúcar estava parada com um pote cheio de rabanadas, usando um vestidinho como o da outra vez. Que deixava bem marcadas as curvas do seu corpo.
- Olá! - disse o anjo, sorrindo.
- O-lá! - disse eu, o boboca, babando.
- Eu trouxe essas rabanadas para festa.
Vanessa veio até a porta e se cumprimentaram com beijinho no rosto e tudo. Fiquei meio sem entender.
- Nós nos conhecemos no elevador e eu a convidei para festejar o Ano Novo com a gente, tudo bem? Sei que a casa é sua, mas achei que não fosse se incomodar.
"De jeito nenhum. Não mesmo. Ponto pra você Vanessa!" - falei comigo mesmo.
- Milton? Miltoooon? - Vanessa chamava enquanto passava a mão na frente do meus olhos.
- Ah, me desculpe. É que eu bebi um whisky péssimo que um amigo da Vanessa trouxe e to meio fora de mim... - sorri, me desculpando por quase babar nos pés da moça.
Vanessa puxou a vizinha e foram pra cozinha.
Ali eu acreditei que ano poderia começar bem.
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